edição e revisão: Patrícia Chammas
Túlio e as vertentes das paixões em poesia e canções.
A primeira matéria do ano é um
mergulho no límpido açude de paixões do músico, compositor e cantor brasiliense,
Túlio Borges, que acaba de lançar seu terceiro álbum, “Cutuca Meu Peito Incutucável”.
Enviado pelo próprio artista, o CD me fisgou no primeiro acorde,
proporcionando-me uma viagem que me levaria a uma enxurrada de boas lembranças
impregnadas no meu imaginário. O cheiro da terra molhada, os banhos nas
alvoradas, nos açudes do meu sertão. Ouvi inteiro, sem respirar, para não perder
nem uma nuance, pois Túlio Borges nos convida a deitar sobre a poesia
nordestina na qual suas raízes estão cravadas. Produzido e arranjado pelo
artista, o disco tem oito faixas em que ele fala de coração, seus amores e
todas as entrelinhas das paixões. Acompanhado de uma seleção de músicos que tem
o saudoso percussionista maranhense Papete, Rafael dos Anjos, Victor Angeleas, Pedro
Vasconcellos, Junior Ferreira, Oswaldo Amorim, Valério Xavier, Aldo Justo,
Caloro e Sérgio Duboc. A capa e arte gráfica são assinadas pela artista
plástica alemã Tina Berning.
“Cutuca
Meu Peito Incutucável” é o segundo álbum de uma trilogia que começou com o CD
“Batente de Pau de Casarão”, de 2015. A ambientação sonora, instrumentação e a
veia poética nordestina também ouve-se aqui.
O
disco abre e fecha com uma parceria riquíssima de sons e palavras entre Túlio e
o poeta paraibano, o visceral Jessier Quirino. Na primeira, “Contracachimbo da
Paz”, Túlio dá asas ao poema que recebera do amigo. Aqui ouviremos como tema, o
amor que desfaz, que angustia, que machuca a alma; a voz solene vestida de uma
sonoridade rica em detalhes percussivos. Na sequência temos uma parceria do
artista com a cantora e compositora Ana Reis: “Concreto, Amor e Canção”,
falando de desilusões. A cantora divide os vocais com Túlio, nos acariciando os
tímpanos com esse bálsamo sonoro. Depois de vivenciar uma imagem de uma bela em
praça pública, o poeta Túlio coloca no papel seus desejos aflorados. Com
citação à música “Fogo e Paixão”, do saudoso Wando, a parceria com o compositor
e cantor paraibano Afonso Gadelha “Ela Levantou os Braços e Eu Morri de Amores”
é um xote/reggae que nos conduz para um açude de desejos a nos banhar de
poesia. “Eita, quanto tempo o teu cheiro fica em minha boca/Parece que meu
coração encontrou onde morar”, diz a letra do xote “Curvas” do poeta e cantor
Zeto, que ganha de Túlio uma interpretação recheada de emoção.
Com
apresentação do poeta brasiliense Renato Fino no encarte do CD, que escreve
sobre a paixão, fico com as frases a seguir: “E se paixão for veneno, bote uma
dose aí/ A Paixão é humana/É Desumana/Feita de punhal e plumas/Dentes e unhas/É
feita de pólvora a paixão/Não é coisa de gente/De pessoa, mulher ou
homem...” Ainda ouviremos “Grandes
Olhos” (Aldo Justo/Alexandre Marino), “Cantiga” dos irmãos Clodo e Clésio Ferreira,
“Vem Não” parceria com Climério Ferreira, e fecho esta rica audição com
“Enxerida no Contexto”, parceria com
Jessier Quirino.
Que
venha logo o terceiro dessa trilogia nordestina de poesia e canção. Um dos
melhores que ouvi nos últimos anos!
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