quarta-feira, 29 de novembro de 2017

A feminina voz para Gonzaguinha


edição e revisão: Marsel Botelho







     O bálsamo da voz nos banha a alma.



Quando o compositor e cantor carioca Gonzaguinha nos deixou há vinte e seis anos, a cantora Mirianês Zabot tinha apenas dez anos e vivia no interior gaúcho, na cidade de São João Bosco. A menina cresceu, desceu a serra gaúcha e desde então divide com todos o sonho que havia sonhado: cantar. De posse de um raro e inato talento, seu álbum de estreia, Mosaico Foto – Prosaico, de 2009, confirma a expertise não só de cantora, mas também seu dom de unir qualidade harmônica, melódica e poética em primorosas interpretações. Deu a si mesma uma missão digna de poucos: cantar Gonzaguinha. Onze temas foram escolhidos, incluindo uma faixa em parceria com o violonista e arranjador Oswaldo Bosbah (que assina os arranjos), presenteando-nos com o álbum Mirianês Zabot canta Gonzaguinha – Pegou o sonho e partiu.

Zabot, predestinada a levar o canto por todos os cantos que houver vida inteligente, mergulha na essência de sua feminilidade em Maravida: “Vida, vida, vida/Que seja do jeito que for/Mar, amar, amor/Se a dor quer o mar dessa dor, ah!” Mirianês faz jus ao privilégio de ter a presença e o aval de uma das maiores divas da voz, Claudette Soares, em dueto, na clássica De Volta ao Começo.

É do samba Com a perna no mundo a frase Pegou o sonho e partiu, que soa como um mantra para a cantora. O cello de Mário Manga em Sangrando é como bálsamo penetrante. Perguntei a Mirianês o que significa, hoje, cantar Gonzaguinha:     ─ Gonzaguinha é um artista que emociona, comove, que faz chorar. É intenso, visceral; ao mesmo tempo traz doçura e fé. Suas canções contêm mensagens edificantes. É importante que possamos ouvi-las sempre. Dedico meu trabalho como cantora à obra dele ─ disse-me.

 Em Desenredo (G.R.E.S. Unidos do Pau-Brasil), parceria com Ivan Lins, a gaúcha celebra cada acorde, tamanha a facilidade de interpretação, mesmo nos temas mais gonzaguianos (que o fizeram ser o ídolo que é). Os arranjos de Bosbah configuram a exata dimensão da força do canto e da voz de Zabot. Em Comportamento Geral, Mirianês faz cada sentimento valer a pena. Sua voz tem o brilho e a agudeza do cristal em Feliz. Espere por mim morena é a canção do disco que me deixa mais próximo desse fantástico artista Gonzaguinha. A mim me vêm imagens do filho do rei do baião cantando sua preciosa morena. Enquanto escrevo estas linhas, sinto como é difícil mergulhar nesse universo e não se emocionar.

Todo grande artista sabe o dom que tem de enternecer, de fazer sorrir e chorar, de não nos deixar esquecer o quanto somos frágeis, e isso seja, quiçá, o porquê de que tanto sonhamos por um lado; por outro, o mainstream dessa força interior que nos faz ser humanos, capazes de construir os mais belos sonhos, tanto quanto de demolir as mais perversas realidades, nisso Mirianês Zabot faz-nos acreditar em Um sonho nos lábios, Galope, Caminhos do Coração e na faixa bônus Vidas Idas.
O show Mirianês Zabot canta Gonzaguinha – Pegou o sonho e partiu está dentro do projeto Talento MPB, nesta quarta-feira, às 21 horas, no Bar Brahma, Av. São João/Ipiranga. São Paulo.


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