quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Um passeio de Bonde


dição e revisão: Marsel Botelho







      O Bonde segue os trilhos da vida e nos envolve de emoção.






“Todo artista tem de ir aonde o povo está/Se for assim, assim será/Cantando me disfarço e não me canso/De viver nem de cantar”: nos Bailes da Vida – Milton Nascimento/Fernando Brant. Foi com esse espírito que a compositora e cantora, mineira de Patrocínio, Maria Leite, pôs os pés na estrada, ou melhor, nos palcos da vida, quando lançou seu primeiro álbum Confessional Urbano, em fevereiro de 2016. Como ela mesma diz, o CD foi um ensaio para o mais recente álbum O Bonde, que pega os trilhos da boa música e aporta na estação de cada ser urbanamente sensível. São 13 faixas, dez assinadas pela artista. Os arranjos são da talentosíssima pianista e arranjadora Silvia Goes.

 Há 21 anos, escolheu a cidade de São Paulo para fazer sua morada e se lançar no mundo da música. Maria acaba de pôr O Bonde nos trilhos, convidando-nos a nele seguir viagem, por entre paisagens e sonhos da mais bela poesia. O CD abre com a música título O Bonde (Maria Leite/Silvia Goes), que vai nos conduzir por 13 estações diferentes. Maria usa O Bonde como uma metáfora móvel: “O mundo nunca tá no lugar/por isso que gira/é por isso que roda/pra deixar a chance chegar”, diz a letra da canção Roda Corrente (ML), gravada no primeiro álbum, que ganha agora o diálogo do violão de Thiago Espirito Santo e o piano de Silvia Goes, uma moldura para a singular voz da bela Maria. Um autêntico samba se ouve em Amor Erudito (ML). A voz, ecoando com o piano, vaticina: “A vida traz o que almeja o coração/Faz do seu viver valer a pena/Faz do seu viver valer”, ouve-se em Jornada (ML).

Seus versos contornam as performances verbais do seu canto, atrás delas, ou sob sua superfície sonoplástica, elementos estéticos ocultos e sentidos a desvendar aparecem subitamente, ao mesmo tempo não visíveis e não ocultos, acima de tudo, audíveis. O Bonde não é trem que passa, nem navio que se perde ao longe, no horizonte, mas luz na química delicada de milhões de vaga-lumes. Em O Balão, olha lá (Richard Goldgewicht/Maria Leite), a vida vem na força, em grãos, que a faz renascer. Durante um café, os amigos Vitor da Trindade e Maria Leite foram poetizados; o papo, que virou canção, tornou-se a Poesia de Nós Dois. Agora, com nova roupa, A ladeira (ML) ganha ritmo de samba. Maria Leite, tenho certeza, coloca sua verdade, sua identidade nesse sensacional trabalho. A rica música independente brasileira a cada dia nos oferece uma gama de bons artistas e produções de destaque como a de Maria Leite. Agora é pôr O Bonde para circular.

Maria escreve com sentimento um poema que oferece a Pipol, poeta e amigo que se foi. A Feira esteve no primeiro álbum e não poderia deixar de estar presente nesse também, com seus sabores e aromas, assim como Minhas Sandálias (ML), que ganhou novo arranjo. Em Eu queria ser duas, mãe!, a artista declara seu amor à sua genitora. Finalizando, ainda ouviremos Sangra e Cura e Tudo ao Redor. Esta é a verdade de uma artista brasileira, que, com toda dificuldade, não esmorece e vai de Bonde mostrar sua arte.

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