dição e revisão: Marsel Botelho
Foto e arte: Elifas Andreato
Quanto
tempo vale uma espera? O tempo que for necessário. Meu Segredo é o álbum de estreia de Mutinho (Lupicínio Morais
Rodrigues), compositor e baterista gaúcho, 76 anos, sessenta de carreira. O CD
tem concepção artística e produção musical de Bruno De La Rosa, Marcos Alma e
Wagner Amorosino. Mais uma realização da Kuarup,
que trata com excelência a música brasileira. O disco tem 15 faixas, entre
inéditas, releituras e as participações especialíssimas de Toquinho, Miúcha e
Georgiana de Moraes (filha de Vinícius de Moraes), além de primoroso trabalho
de capa feito pelo artista plástico Elifas Andreato.
Geralmente,
faço uma crítica faixa a faixa, mais vale saber do próprio artista como foi a
concepção do álbum. Então, senhoras e senhores, adquiram esse primoroso
trabalho. O disco começa com Até Rolar
Pelo Chão, uma das primeiras parcerias de Mutinho com Vinícius de Moraes,
composta durante as turnês que fizeram pelo país nos anos 70. Em seguida, outra
canção com Vinícius de Moraes, mas, dessa vez, surpreendentemente inédita, composta
em homenagem a Lupicínio Rodrigues, tio de Mutinho: Acalanto Para Embalar Lupicínio surgiu depois de o cantor e
compositor receber a notícia do falecimento de seu tio.
A
faixa-título, Meu Segredo, foi a que
selou a parceria com Toquinho, uma história apaixonada, inspirada em relato de
uma amiga em comum. “Seja mais um amigo que vai a cidade alegrar”, pensou João
Palmeiro, ao ouvir a melodia da marcha-rancho, dolente e melancólica, de O Rancho Convida. Sem
Saída é outra parceria com Toquinho, que relata um desencontro amoroso. Valsa dos Músicos (“Uma Só Família”)
passou muito tempo guardada, cuja melodia ganhou versos de Vinícius, com grande
entusiasmo de Tom Jobim.
Em
Oi Lá, dar-se continuidade à homenagem
às mulheres, o protagonismo do discurso encanta ao se falar da paciência e da
tolerância femininas, segurando a barra e a multiplicidade de problemas
advindos da cansativa rotina familiar e doméstica. A música Amigo Porteño emerge de uma aventura com
raízes em Buenos Aires, por volta de 1976, onde Vinícius de Moraes se apaixonou
loucamente pela poetisa argentina Marta Santamaria. Única letra do amado poetinha escrita originalmente em
espanhol. Meu Panamá é uma homenagem
ao amigo poeta Vinícius, com a participação de Georgiana de Moraes. Um amor
impossível é o tema de Sonho de Heloísa,
valsa em parceria com o amigo Carlos Chagas. A marcha-rancho Azul de Maio ganha agora leitura do
próprio autor.
O
samba Numa Só Das Mãos, em parceria
com Luiz Carlos Seixas e Toquinho, fala de relacionamento duradouro. Escapada é música letrada pela saudade
que João Palmeiro sentia do amigo. Com tantas homenagens no disco, coube ao
filho e parceiro, Márcio Mutalupi, o presente dedicado ao pai, em Estrela Dourada. Para encerrar esse
disco histórico, Turbilhão consubstancia
uma vida inteira dedicada à música, de forma intensa, com histórias fantásticas.
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