quarta-feira, 25 de outubro de 2017

A Selva Sonora de Samuca



edição e revisão: Marsel Botelho







      O som pulsa no peito altivo




Impossível ficar parado. Esta é a sensação ao se ouvir os primeiros acordes do CD ou do vinil Madurar da banda paulista Samuca e a Selva, selo YB Music. O álbum nos brinda com 12 canções produzidas por Marcos Mauricio, articulando a mistura da crônica poética urbana aos ritmos regionais baião e ijexá, adicionando a estes a influência de gêneros mais universais como jazz, salsa, soul e afrobeat, uma pluralidade sonora vigorosa. Formado pelo cantor e compositor Samuel Samuca, o coletivo Samuca e a Selva é fruto da união de um grupo de músicos que tem no currículo diversos projetos de sucesso na cena da música contemporânea de São Paulo: Victor Fão, Bio Bonato, Fabio Prior e Guilherme Nakata (da Nomade Orquestra), Thiago Buda (ex-membro do Bixiga 70), Felipe Pippeta (da OBMJ), Allan Spirandelli e Kiko Bonato (do Ba-boom), além de Lucas Coimbra, teclados e acordeom. Desde 2014, a trupe vem conquistando novos públicos e a crítica especializada.

Aumente o som, pois faremos um passeio filosófico e rítmico entre contos urbanos e histórias cotidianas. A voz de Samuca e o naipe dos metais se entrelaçam no compasso da batera, na marcação pulsante do baixo, no sacolejar do fole e na cama harmônica do teclado. Bem-vindos à selva! Abrindo a audição, em 14 segundos, Vai inicia a trama dos arranjos para que os metais anunciem a música que dá título ao álbum, Madurar (Samuel Samuca/Rodolfo Dox Lacerda). Límpida como cristal é a fluidez do cotejo entre o afrobeat e o filosofar da letra com as coisas da fé. Em Pobre do Bento (Samuel Samuca/Rodolfo Dox Lacerda), a narrativa é taxativa: “Não tinha teto pra chamar de lar/Não tinha roupa bonita/Não tinha fita/Não tinha mais/Sorria com peso de um pesar...” A percussão avisa: o ijexá é forte.

A música do disco para este escriba é Afobado Peito Altivo (S. S). Desde a primeira audição, ela me disse algo que eu não sabia bem o que era, até descobrir uma alegre saudade imensa povoando o peito. Os metais são soberanos e os solos de sax e guitarra fecham com chave de ouro, arpejos para intensos sentimentos. Em Detergente, (S.S), a salsa emolda os dilemas das coisas do coração. O soul, numa mescla de inglês e português, esparze a pulsação de À Beça (S.S), destaque para os solos de trompete, órgão e guitarra. Em Guará (Samuel Samuca/Thiago Buda/Allan Spirandelli), a vida do pequeno Samuel faz-se presente em toda nota. Impossível a galera não saracotear cada átomo em Coco Docê (S.S). “Fiz o meu jardim na tua cama/Tu só não cansa/De pisar na grama...”, diz a letra de Flores Raras (Rodolfo Dox Lacerda/Bruno Parola/Dani Agrelli).

Uma bela guarânia se ouve em Pantanal Paraguayo (Samuel Samuca/Rodolfo Dox Lacerda/BrunoParola). Esperanza (Bem-vindo à Selva), de Samuel Samuca e Kiko Bonato, o tema põe em discussão o alerta sobre o desequilíbrio no ecossistema da selva de pedra, com as participações especiais de Thiago França (saxofone) e Maurício Fleury (órgão farfisa). Fechando a audição, a instrumental Pantanal (Samuel Samuca/Rodolfo Dox Lacerda/BrunoParola) dá ao ar da graça amazônia o nome. Que venham outros álbuns. Esse é bom demais.

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